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domingo, 26 de agosto de 2012

(2) - Um pouco de epistemologia


Não queremos fazer desse blog um espaço onde predomine a discussão política. Embora as motivações para voltarmos nossa atenção às fronteiras marginalizadas da ciência incluam as políticas - mas não se resumem a elas - esse não deve ser o foco aqui. Em outras épocas tivemos uma visão de um novo mundo regido por uma nova ciência e um novo sistema de produção, mas, ao blogar sobre o assunto, nos perdemos meramente no ataque ao sistema e não passamos a visão global que imaginamos, que era baseada essencialmente em insights científicos, e não em discussões sobre ideologias já rotuladas e defendidas por militantes. Não vamos deixar de falar de política aqui, porque não padecemos da ilusão de que é possível ser apolítico, sabemos que tudo é política, de uma forma ou de outra. Mas pretendemos passar uma idéia baseada em um insight científico, antes de político, e por isso nos voltaremos agora para a  filosofia da ciência e a epistemologia.
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Entre os cientistas e os que trabalham com tecnologia (como técnicos e engenheiros), muitos adotam a postura dogmática do realismo científico ou empirismo ingênuo [1]. Deveriam saber o que é isso, pois deveriam estudar a filosofia da ciência, mas poucos dão a real atenção a estes questionamentos filosóficos. Nós particularmente não gostamos desta postura. A ciência é apenas um modelo, e tomar o modelo como a realidade é um erro grave; decerto que nenhum modelo é totalmente abrangente, o cientista deve então ter consciência das limitações do seu modelo, e manter sua mente aberta para a possibilidade de encontrar um fenômeno que contrarie seu modelo, pois todo modelo é restrito a uma série de condições. Uma atitude mais realista seria considerar que mesmo após tantos avanços, ainda estamos a olhar as sombras na parede da caverna [2].
Sabemos através da história da revolução científica do início do século XX, que deu nascimento à física moderna, que a mudança de paradigma [3] é um processo doloroso. A mecânica quântica e a relatividade deram um nó na cabeça dos físicos, jogando por terra os conceitos da física clássica, deixando os cientistas literalmente sem chão, como se estes mergulhassem no abismo escuro do desconhecido sem saber se o pára-quedas iria abrir. Há uma resistência enorme a mudanças profundas, e, nos dias de hoje, mudanças profundas no modelo podem implicar prejuízo a interesses econômicos já estabelecidos. Apesar de a relatividade e a mecânica quântica terem sido mudanças de paradigma tão radicais, não afetaram os interesses político-econômicos vigentes, o que explica elas terem passado com relativa facilidade.

Existe um mito de que a ciência é neutra. Mas não é o que acontece, a ciência nunca é neutra. Há um julgamento de valor implícito na rejeição ou aceitação de qualquer teoria (e outro mais pesado ainda quando alguém decide que tipo de ciência financiar e que tipo não). Um paradigma é construído em cima de premissas básicas, e a escolha de um paradigma ao prejuízo de outro não se dá por uma questão racional. No início da conquista de um novo campo de saber, há uma pluralidade de paradigmas, de teorias diferentes, e geralmente uma não pode ser compreendida usando a base conceitual da outra, o que gera um período de imensa confusão. É importante salientar que os dados empíricos e os resultados matemáticos poderiam, muitas vezes, ser interpretados de diferentes maneiras. No fim, a escolha de um paradigma em detrimento de outro se dá, em boa parte, porque os cientistas acreditam nele.

Ao fazer-se a escolha do paradigma e o mesmo mostrar-se bem sucedido, ele tenta perpetuar-se, tomar o falso lugar de uma "lei" natural ou algo assim, como um dogma que não poderá mais ser questionado, e todas as teorias alternativas são marginalizadas e caem no ostracismo, assim como os poucos cientistas que ainda as defendiam. Não há financiamento nem apoio à sobrevivência destas teorias, e muito menos às experiências que tenham como objetivo direto falsear [4] o paradigma vigente, cessando o interesse da comunidade científica na procura por anomalias.  

Agora vem a pior parte. Mesmo que um destes renegados tenha conseguido realizar um experimento que falsifique o paradigma vigente a tempo, geralmente é considerado erro do pesquisador, quando não é simplesmente ignorado [5], ridicularizado, e às vezes pode até destruir a carreira de um cientista. Por vezes, considerar este experimento um erro é justificado quando alguém não consegue reproduzir o experimento, mas nunca se considera que quem tentou reproduzir tenha errado. Afinal, como dissemos, o conflito entre os paradigmas envolve certa confusão conceitual, e o cientista educado no paradigma vigente não consegue compreender exatamente o que ele está tentando reproduzir. Levando em consideração que ele não acredita no que quer reproduzir, e que provavelmente já começou o experimento com a intenção de falseá-lo, é bem provável que o mesmo resultado não seja mesmo atingido.

Algumas vezes, anomalias são descobertas por acaso, que não podem ser explicadas por nenhuma teoria vigente. Mesmo quando o experimento que revelou a tal anomalia é replicado, a mesma não é suficientemente divulgada, não consta de livros-texto, ficando esquecida em algum canto obscuro da pesquisa científica.

Com isso queremos ilustrar que a objetividade científica é algo raro mesmo entre os cientistas. Em nome desta objetividade, deveria-se colocar em cheque uma teoria ou paradigma ao primeiro sinal de anomalia, mas os mesmos se perpetuam como dogmas.  

Assim, muitas experiências e teorias interessantes, que, talvez, se fossem revisitadas nos dias de hoje colocariam os modelos atuais em cheque, ficaram perdidas na história, pois não participaram do mainstream científico da época, ficando a aceitação social dos fatos (pela comunidade científica) restrita aos modelos que se perpetuaram. Mas quando o acúmulo de dados que contrariam o modelo se torna enorme, uma revolução científica entra em jogo.

Poderíamos nos aprofundar no assunto e dar exemplos de modelos que foram abandonados e revoluções científicas e suas relações com os aspectos históricos e sociais. Mas este artigo se chama "um pouco de" epistemologia e serve só para mostrar como o questionamento sobre a história e o desenvolvimento da ciência foi mais uma das motivações que nos levaram às bordas marginais da ciência... Talvez aprofundemos essa questão epistemológica em outros artigos, mas enquanto isso vamos continuar seguindo a linha que nos trouxe até aqui...

Notas:

[1] O realismo científico, ou empirismo ingênuo, é a visão de que o universo é explicado da forma que realmente é pelas afirmações científicas. Realistas defendem que coisas como elétrons e campos magnéticos realmente existem. É ingênuo no sentido de tomar modelos científicos como sendo a verdade, e é a visão que a maior parte dos cientistas adota.
[2] referente ao mito da caverna de Platão (wiki português, inglês)
[3] Este texto segue a linha iniciada por Thomas Kuhn (wiki português, inglês). Ver também este link
[4] Falsear (wiki português, inglês) uma teoria é realizar um experimento que a prove incorreta, segundo a epistemologia Popperiana (wiki português, inglês). Existe uma diferença entre as epistemologias de Kuhn e Popper porque a tese de Kuhn é de que há uma resistência grande a falsificação de uma teoria longamente bem sucedida, ou seja, que constitua um paradigma.
[5] Repetindo assim, a atitude das autoridades da igreja que, na época de Galileu, recusaram-se a olhar pelo telescópio porque "sabiam" que não havia nada para ser visto.

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